Que Machado de Assis é um dos maiores romancistas que já existiu, ninguém dúvida. Todos já ouvimos falar sobre Quincas Borba, Dom Casmurro e muitos outros romances e contos escritos por esse ícone da literatura. Lembro-me do primeiro romance do autor que li, que por acaso tinha sido o primeiro que ele havia publicado, Ressureição, e de como, apesar da linguagem rebuscada que era estranho para alguém nos seus treze anos, consegui reconhecer a grandiosidade desse grande escritor, mas hoje vamos falar de O Alienista. que por coincidência também traz um médico como protagonista.
O livro se inicia contando de um tal doutor formado na Europa e com muita influência com a corte portuguesa: se nome era Simão Bacamarte e ele havia acabado de tornar à sua terra natal, a vila de Itaguaí. Ele decide, após algum tempo, casar-se com dona Evarista, uma mulher de vinte e poucos anos, que não possuía nem beleza, nem graça, mas que segundo o médico possuía as qualidades necessárias para ser uma boa esposa e dar-lhe herdeiros com saúde. Acontece que muito tempo se passou e a mulher não foi capaz de assumir tal função, mesmo assim Dr. Bacamarte manteve o casamento, preferindo assumir agora o papel de médico e servindo aos interesses da vila.
Simão sabia que o que ele estava prestes a fazer era algo inédito, já que a profissão de médico psiquiatra era novidade nas terras tupiniquins e pouca gente se preocupava com saúde mental naquela época. Os “loucos e “débeis” eram muitas vezes destratados por seus familiares e conhecidos e por isso manter uma casa para seu tratamento era o maior objetivo do médico. Com a sua nova missão, Dr. Bacamarte se reúne com a assembleia local para discutir a ideia, que encontra certas ressalvas, mas após entender a importância de tal feito, fica acordado que o manicômio será aberto na maior e mais bela casa de Itaguaí, que ficou apelidada de Casa Verde.
Aos poucos a situação acaba se complicando, já que Dr. Bacamarte decide internar mais pessoas a cada, mesmo aquelas que eram consideradas sãs por todos ao seu redor, o que deixa a população de Itaguaí alarmada. Sua esposa tenta fazê-lo desacelerar, mas o homem estava focado em seus estudos sobre a loucura e decide que mandá-la para o Rio de Janeiro poderia acalmar seus nervos e D. Evarista se vê, junto a uma comitiva, embarcando em direção à cidade maravilhosa.
Acontece que o clima na cidade só piora e uma revolução acaba por eclodir. O barbeiro Porfírio se junta com a população local no que ficou conhecido como a Revolta dos Canjicas. Eles conseguem derrubar o governo local, mas não ao Dr. Bacamarte, que mais uma vez mostra o quão influente e respeito ele era por onde ia, o que acaba levando ao novo governo dos revoltos a ser derrocado com tanta rapidez quanto o número de internos na Casa Verde crescia.
Se dando conta de seu erro, o médico decide libertar os internos, o que gera grande comoção na população e também faz crescer a admiração das pessoas ao grande psiquiatra que era Dr. Bacamarte. Agora ele havia decidido uma nova abordagem afim de descobrir a origem da loucura, tentando assim encontrar a cura para tal, o que o leva a concluir que ninguém na vila de Itaguaí era louco senão o próprio médico.
A forma como Machado de Assis construiu essa narrativa nos faz pensar que aquilo de fato havia acontecido, toda a narração é feita de maneira que o leitor pareça estar em uma conversa com o narrador, na qual o locutor lhe conta tal anedota que parece absurda, mas que jura ser verdadeira, e o leitor a absorve e se envolve na história de maneira que nos esquecemos que aquilo não se passa de mera ficção. Esse estilo de escrita muito presente na obra do autor é considerada um romance do movimento Realista, marcante em boa parte da obra de Machado de Assis.
Algo que me surpreendeu bastante é quanta informação e referência é contida em tão poucas páginas. Eu que costumava ler livros de 500 páginas em menos de uma semana, me vi tendo certa dificuldade em acreditar que levei dois dias para ler apenas 61 páginas na versão e-book. Talvez seja a linguagem da época ou o fato de eu ter escolhido ler a obra durante a noite, mas posso dizer mesmo assim que consegui apreciar toda a complexidade do gênio que foi Machado de Assis na escrita de cada um de seus romances e contos.
