RESENHA: PERSUASÃO

Há um tempo que um livro não me cativava tanto quanto este que aqui vos falo, talvez porque eu tentava encontrar em romances modernos aquilo que só um bom clássico poderia me proporcionar e, ainda que romances modernos tenham seu charme próprio, nada se compara aos cenários encantadores que você pode encontrar nas páginas de um livro escrito lá no século XIX.

Apesar de encantador, não posso dizer que li Persuasão tão rapidamente quanto desejava, tão pouco pude aproveitar muitas horas a fio na companhia deste livro incrível. Talvez seja falta de tempo ou de costume, não sei dizer, mas mesmo assim ele se tornou um dos meus livros favoritos. Mas o que interessa aqui é falar de história e essa tem várias camadas e acontecimentos que te prendem às páginas do romance britânico de 1818.

Anne Elliot, é a filha do meio de três irmãs – sendo a mais velha Elizabeth e a caçula Mary – de um família da aristocracia inglesa. Seu pai, Sir Walter Elliot é um homem tão vaidoso quanto um barão poderia ser: ele mesmo se gaba da beleza que nunca o abandonou e de seu título dentro da sociedade, se comparando com homens mais jovens que não tiveram o privilégio de serem abençoados com tamanha beleza e vigor. Tamanha vaidade do pai de Anne o impede de reconhecer que já não pode mais viver como antigamente, já que seus luxos fizeram com que a fortuna da família diminuísse drasticamente após a morte de sua esposa, Lady Elliot. Afim de manter a sua propriedade dentro da família, fica-se decidido que Kellynch Hall será posta a locação, assim ninguém teria direito de questionar a dignidade dos Elliot e Sir Walter não se sentiria tão humilhado em deixar o local para novos moradores.

Acontece que a família que aluga o lugar é, de certa forma, antiga conhecida de Anne Elliot. Na flor de sua juventude, a moça esteve noiva de Frederick Wentworth (de quem nunca pôde esquecer-se), sendo impedida pela família e sua amiga íntima, Lady Russell, de contrair matrimônio com alguém que não fazia parte da mesma classe social e agora, oito anos mais tarde, a irmã de seu antigo afeto alugava Kellynch Hall como novo lar. Os Croft eram sem dúvida ótimos locatários, mas Anne temia que logo se encontraria com o seu antigo amor e isso não demorou muito a acontecer.

O que Anne não esperava é que seu reencontro com o Capitão Wentworth lhe traria tantas emoções indesejadas. Primeiro porque ela teve que assistir as irmãs Musgrove – Henrietta e Louisa – cunhadas de sua irmã Mary, se tornarem pretendentes de seu ex-noivo, acreditando que ele já não sentia nada, nem mesmo a velha admiração, senão repulsa, raiva e desgosto em relação a ela.

Seus sentimentos são postos ainda mais a prova quando juntamente às irmãs Musgrove, Mary e seu marido Charles e o Capitão Wentworth, visita a bela Lyme para conhecer os Harville. A viagem ia muito bem e todos pareciam contentes até que Louisa sofre um acidente que a deixa inconsciente e a impede de voltar para casa, fazendo a moça receber ainda mais a atenção de Wentworth.

Muitas surpresas acontecem até que Anne perceba como ela estava errada sobre os próprios sentimentos e aos sentimentos do Capitão Wentworth, mas se eu contar para vocês qual seria a graça em ler o livro?

Eu nunca estive na Inglaterra, tampouco observei de perto as paisagens descritas nas páginas de Persuasão, mas lendo a cada uma delas eu pude sentir um pouco do clima campestre que os personagens estavam acostumados e a tal agitação de Bath – que eu tenho certeza, passa longe da agitação que a gente vive aqui em São Paulo – e a tranquilidade de Lyme que tato encantou Anne.

E por falar em Anne; ela é tipicamente a irmã do meio. Faz de tudo pela família e ate sacrificou a própria felicidade em pró do ego deles, ainda assim não é reconhecida por eles, muito menos é levada em consideração em momento algum. Para Sir Walter, só ele e Elizabeth importam na família, enquanto Mary só procura a irmã quando precisa de algo e parece não se preocupar com os verdadeiros sentimentos dela. Isso me lembra muito de um texto que vi sobre o papel de cada filho na família, que dizia como o filho do meio acaba carregando toda a responsabilidade consigo e ainda é o que menos é ouvido, citado e lembrado pelos outros. Anne, por ser educada demais, respeitosa demais e modesta tão quanto delicada, não ousaria expressar seus sentimentos em relação à falta de consideração que sua família lhe presta, muito menos questionaria se as intenções de Lady Russell tinham levado em consideração mais seus verdadeiros sentimentos para com Frederick Wentworth do que a sua posição social.

As voltas que a vida dá são bem características na narrativa e trazem certa ironia, pois basta adquirir certa fortuna que aqueles que antes o desprezavam passam a te admirar. Capitão Wentworth pôde observar de perto o que era isso, já que a atitude das pessoas que o rejeitaram oito anos antes haviam mudado bastante junto a seu retorno, mas Anne, ela sim permanecia com os mesmos sentimentos, ainda que ela demorasse a admití-los.

A edição que comprei tem 232 páginas, e mesmo que você ache longo demais ou curto demais, cada uma delas vale muito a pena serem lidas e com toda certeza vão te fazer suspirar, sorrir e se apaixonar por mais um romance de Jane Austen.

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