Alô, Jane Austen Lovers!
Não sei se já deu para perceber, mas eu tenho um fraco pelos livros da Jane Austen. Sei lá, mas ninguém faz isso como ela fazia e seus romances têm a dose certa de sarcasmo, humor, romance e críticas sociais que trazem temas tão atuais que certamente qualquer jovem que a estes livros vai se identicar com suas heroínas.
Quando o assunto é o primeiro romance da autora, é díficil pensar com qual personagem me identifico mais, mas vou falar sobre isso depois de apresentar a história para quem ainda não a conhece. Publicado em 1811 sob o pseudonimo “A Lady”, a obra traz a história traz a relação de duas irmãs de personalidades opostas, Elinor que age pela razão, e Marianne, que é movida pela emoção. Após a morte de seu pai, Sr. Dashwood, elas e sua irmã mais nova, Margaret, juntamente com sua mãe, têm de deixar a casa onde vivem e todo o conforto que o dinheiro do pai lhes proporcionava, já que a herança pertence a seu irmão mais velho e fruto do primeiro casamento de seu pai. John Dashwood é casado com Fanny, uma mulher egoísta e antipática que se recusa a oferecer qualquer ajuda a família de mulheres desamparadas após a perda de seu patriarca. Fanny acredita que o desejo de Sr. Dashwood para que seu filho zele pelo conforto de suas irmãs não significa que o marido deva abrir mão de parte da fortuna que será herdada por seu filho mais velho e que elas viverão muito bem com seus dotes. Acontece que naquele período, perder parte de sua fortuna significa que estas mulheres terão menos chances de conseguir um casamento vantajoso e elas terão de abrir mão da vida que estavam acostumadas a levar. Enquanto John e Fanny se instalam em Norland, as mulheres da família Dashwood planejam onde irão se instalar agora que seu lar pertence ao irmão e a Sra. Dashwood até pondera ficar perto dali para poder se sentir mais próxima de seu antigo lar.
Acontece que o irmão de Fanny, Edward Ferrars, começa a frequentar o local e ele desperta o interesse de Elinor, assim como a jovem lhe desperta o interesse. Tal acontecimento desagrada a irmã, que desaprova que ele tenha um casamento tão desfavorecido e espalha as ideias de sua mãe sobre o assunto, fazendo com que a Sra. Dashwood queira estar o mais longe possível desta mulher e seu lar. É então que um dos primos da Sra. Dashwood, Sir John Middleton oferece uma pequena propriedade a elas em Devonshire, Barton Park e a mulher decide aceitar. Logo as quatro mulheres se mudam para o local e o transformam em seu novo lar. Em sua nova vizinhança elas conhecem o Coronel Branddon, de 35 anos, a quem Marianne se refere como um velhote incapaz de apaixonar-se ou de ser objeto do amor de alguém. Durante uma caminhada, por fim, Marianne conhece Willoughby, a quem ela deposita seus sentimentos mais sinceros por acreditar que o jovem possui as mesmas virtudes que a própria. O romance traz o contrastre entre a personalidade das irmãs em lidar com seus sentimentos e virtudes, enquanto amadurecem e percebem seus erros e descobrem o verdadeiro sentido do amor.

Sei que para muita gente, assim como Marianne, idade é um assunto delicado. Vamos deixar claro, Branddon certamente não é um velhote como a moça descreve, mas pensar em casar uma menina de 17 anos com um homem de 35 não me parece uma ideia muito tentadora e, ao ver o que acontece no final, apesar de admirar a persoanlidade do rapaz, penso que a relação dos dois não deve ser muito equilibrada. Talvez este tipo de diferença de idade não fosse um problema tão grande para as pessoas da época como é hoje em dia, e ainda assim muitas pessoas parecem não se importar com tal coisa pelo fato de existir uma idade de consentimento. Acredito que exitem diversas maneiras de se olhar para relações do tipo, mas é certo que a maturidade de alguém entrando na vida adulta nem se compara a de quem já passou por mais de três décadas de vida – e não me diga que maturidade não tem a ver com idade, porque existem vários níveis a serem discutidos – a relação de poder entre um adolescente e um adulto na casa dos 30 é de extremo desequílibrio que só com o tempo e a idade a gente passa a entender.
Quando a relação de Elinor e Edward, é fácil entender porque existe tanta dificuldade para que eles possam assumir seus próprios sentimentos. Ambos são reservados e precavidos, dificilmente teriam coragem de se abrir de não tivessem a certeza de que ambos compartilhassem os mesmos sentimentos, ainda mais quando a família de Edward é tão avessa a tal relacionamento.
Este é um dos romances mais profundos e inteligentes da autora, que traz temas que podem facilmente serem discutidos hoje e aqui. A relação da sociedade com a vida e as escolhas de uma mulher podem até terem mudado bastante, mas ainda assim nós mulheres enfrentamos um tratamento diferente dos homens e nos são oferecidas oportunidades desiguais que trazem temas tão caros ao feminismo à tona. Talvez não nos é tirada a herança de um pai morimbudo que deveria ser dividida em partes iguais a todos os filhos, mas nos é tirada a oportunidade de sermos pagas com o mesmo salário que um homem é pago quando exerce a mesma função ou de não ser questionada pelo simples fato de existir a possibilidade de sermos mães e precisarmos cuidar de nossos filhos durante a jornada de trabalho – ou até mesmo sermos questionadas por não querer ser casar ou ter filhos. O corpo da mulher ainda não pertence a ela mesa, pois temos homens sentados nas cadeiras que decidem nosso futuro, nossos direitos e deveres como se esta pauta pertencesse a eles, então não podemos dizer que as coisas realmente estão tão diferentes do século XIX…
Se você adora romances e temas atemporais, com certeza vai gostar de ler este ou qualquer outro livro de Jane Austen!

Um comentário sobre “DICA DE LEITURA: RAZÃO E SENSIBILIDADE”