A cerimonia do Oscar foi no último domingo, e trouxe para casa o tão sonhado Oscar, com a direção de Walter Salles, e protagonizando a incrível Fernanda Torres, com nomes de peso como Selton Melo e participação de Fernanda Montenegro no filme, Ainda Estou Aqui ganhou o tão merecido Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na noite.

Mas nem apenas de decisões boas a noite foi feita, então hoje estou aqui para comentar os principais pontos da noite, e os piores também. Primeiro, esse post é baseado inteiramente em opinião pessoal de uma fã de cinema, então não levem muito a sério. Segundo independente da sua opinião sobre um filme ou sobre os ganhadores, não ataquem os artistas, todos os brasileiros normais, que não são puxa-saco de gringo, concordamos que Fernanda Torres merecia o Oscar de Melhor Atriz, mas isso não dá o direito de ninguém ir ofender a atriz ou o filme ganhador.

Então vamos lá, primeiro os momentos mais constrangedores da noite ficam por conta dos criadores de El Mal, canção daquele filme horrível Emilia Pérez, que ganhou injustamente a estatueta. Isso porque não satisfeitos de levar um prêmio que ofende diretamente todo o México, os queridos decidiram cantar em seu discurso de ganhador, o que honestamente me deu tanta vergonha alheia, que se eu não estivesse aguardando o Walter ganhar o Oscar tão merecido dele, tinha desligado a cerimonia ali mesmo.

Continuando no assunto desse filme, que ainda rendeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante a Zoe Saldaña, o que aliás deveria ser considerado um crime contra o cinema dizer que ela foi melhor nesse filme, que nem deveria ser indicado a nada, do que Isabella Rosselline foi em Conclave. E novamente, sem ofensas direto a atriz, que tem ótimas atuações em sua carreira, mas dizer que ela se destacou mais que Isabella é um absurdo para mim.

Claro, que sou contra tudo que envolva esse filme, começando pela escolha ultrajante do diretor FRANCÊS fazer um filme supostamente sobre o México sem envolver mexicanos na produção, com quase nenhum ator do México no elenco, e nenhum no principal, sem contratar alguém para dirigir a linguagem no filme, que não foi de forma alguma feita em espanhol Mexicano, sem contar na história absurda e preconceituosa. Então sim, tenho vários problemas com esse filme, com todos os prêmios que eles ganharam sem merecer e tudo que envolve ele.

Os piores pontos para mim é a romantização de uma Narcotraficante, que é um assunto sensível ao país, a representação caricata do povo, e da língua, onde alguns atores mal falavam espanhol, e nenhum deles tinha sotaque mexicano, e falavam diversas vezes com expressões de espanhol de outros lugares. Além disso, a representação trans que deveria ser um ponto positivo, foi malfeita, e ainda conseguiu ser transfóbica.

E a pior parte, o elenco e produção deram várias falas preconceituosas em suas carreiras, e apesar do diretor ser o pior deles, ele jogou a atriz transsexual principal na fogueira. E apesar de ela ter falas horríveis e não ser nem de longe alguém legal, ela não é a única fonte de problemas no filme, e terem jogado ela para os leões, porque sabiam que ela ia sofrer mais hate, é honestamente a gota d’água desse desastre de filme.

Que ganhou esses prêmios injustos porque é o que os homens brancos cis heterossexuais críticos de cinema gostam, mostra uma visão eurocêntrica de um homem branco sobre um país latino, sem consultar os latinos em questão. Então, tinha tudo para os críticos gostarem, e os mexicanos odiarem, que foi o que aconteceu. Então, para mim a maior injustiça do Oscar começa com esse filme ter sido indicado a qualquer coisa, porque de forma alguma eles mereciam.

Agora, focando um ponto nos positivos, Flow ganhou como melhor animação, sendo a primeira indicação de um filme da Letônia, e o país inteiro entrou em festa, com direito a estatua do gato que protagoniza a animação. E exibição do Globo de Ouro em um museu no País e uma semana de exposição em homenagem ao longa de animação. E fiquei muito feliz por isso, especialmente que eles usaram um programa livre, é um filme independente com pouquíssimos recursos que conquistou o mundo sem fala alguma.  

Além disso, In the Shadow of the Cypress que é um curta iraniano, ganhou o de melhor curta-metragem de animação, uma conquista e tanto, especialmente, porque eles nem sabiam se iam conseguir terminar o curta. E os produtores até um dia antes da cerimonia não sabiam se iam estar nela, devido ao visto deles não ser aprovado até um dia antes. Então o fato de o curta ter ganhado, especialmente considerando a visão do atual presidente dos Estados Unidos sobre os imigrantes do país que o curta saiu, é um feito incrível e super merecido.

Continuando nas categorias técnicas, Duna 2 ganhou como melhor som e melhor efeitos visuais, o que foi merecido e esperado. O Brutalista ganhou como melhor fotografia, trilha original e rendeu o prêmio de melhor ator a Adrien Brody que fez o discurso mais longo da história da premiação, que ninguém aguentava mais. Esses também eram esperados, mas admito que esse filme eu não vi, porque são quase 4 horas de um filme de drama pós-guerra, e honestamente, 3h35 de drama é um pouco demais para mim.

 No Other Land fez história ganhando o de melhor documentário, visto que retrata a situação da Palestina, e foi coproduzido por uma dupla de Palestino e Israelense incrível, e foi super merecido. É sempre bom lembrar que o massacre aos palestinos acontece a muito tempo, e como eles não são brancos, a ONU não está nem aí. Além dele, de curta documentário foi um super fofo de uma sobre a primeira mulher em uma orquestra, ainda não assisti esse, mas parece fofo.

Agora sobre algo que não concordo de forma alguma, Conclave saiu apenas com um Oscar, quando merecia mais, ganharam o Oscar de roteiro adaptado, mas deviam ter saído pelo menos com o de melhor atriz coadjuvante e mereciam ter sido indicados em fotografia ao invés de Emilia Perez, sério como ele não recebeu indicação nessa categoria? Não desmerecendo o vencedor, que tem de fato uma fotografia fenomenal, mas mereciam uma indicação.

E Conclave foi adaptado do romance de mesmo nome de Robert Harris, e mereceu muito o Oscar que ganhou porque foi adaptado com maestria. A riqueza de detalhes na descrição do local em que a história acontece é passada com clareza ao filme, graças ao esforço da equipe que recriou os locais da vida real da igreja católica, no qual a história se passa. E tanto o filme quanto o livro mostram de uma forma muito boa, a forma como a Igreja Católica em sua regência tem um ar político muito claro.

Sobre o melhor prêmio da noite, ganhamos merecidamente o prêmio de Melhor Filme Internacional e o país teve celebrações em todos os lugares, pessoas pararam bloquinhos para ver esse momento. E eu dei um grito tão grande que meus vizinhos ficaram preocupados, merecemos demais.

Finalizando, temos que falar de Anora, o filme saiu com diversas estatuetas, entre melhor direção, melhor filme, melhor atriz, melhor roteiro original e melhor edição, o que honestamente me pegou de surpresa, mas provavelmente não deveria.

Sem querer desmerecer o trabalho da Mikey, que arrasou no filme e é uma ótima atriz, Fernanda era melhor, mas entendo que as nossas chances eram poucas, visto que ela é brasileira, mas é meio irônico a forma como as coisas aconteceram. Tinham diversas pessoas na internet fazendo piadas dizendo vamos ver que minoria o Oscar odeia menos, já que tínhamos uma atriz preta por um musical, uma atriz transsexual, uma atriz brasileira, e uma atriz mais velha que fez um terror, o que sabemos que a academia não gosta historicamente. Ai eles foram lá e falaram, odiamos todos igualmente, vamos ficar com essa atriz novinha de 25 anos que fez uma stripper, com maestria é claro, mas o que esperar desse prêmio não é mesmo?

 Fico preocupada com a atriz também, ganhar um Oscar tão jovem, especialmente considerando o tipo de filme que ela fez, e por ser mulher, pode a colocar em uma bolha, da qual vai ser difícil sair, expectativas vão ser colocadas nela. E sendo tão jovem, nessa indústria, que A Substância mostrou com maestria, não é justa com mulheres, e não sei como será o futuro dela se tentar fazer algo diferente.

O roteiro protagonizado por Demi Moore se mostrou mais real do que nunca, já começando quando Nicole Kidman não foi indicada por Baby Girl, e ainda mais na escolha de atriz, apesar de não concordar, não fico surpresa, é uma escolha fácil para academia.

O que fico surpresa e muito é com Anora ter ganhado como melhor filme, quando tinham tantos outros títulos fortes concorrendo. E nem falo por conta de Ainda Estou Aqui, que sabia que não ganharíamos nessa categoria, mas por títulos como Conclave, é um filme incrível, com a cara do Oscar, e tem um roteiro fenomenal, ou por filmes como A Substância, O Brutalista que é longo demais, mas super elogiado e tantos outros indicados.

Enfim, foi um Oscar cheio de emoções, que rendeu um Oscar a nosso país, e apesar de sermos maiores que esse prêmio estadunidense, é ótimo ter reconhecimento de fora, de algo que a gente aqui já sabe. Nosso cinema é incrível, nossas novelas são ótimas e mandamos melhor no humor que em qualquer outro lugar do mundo, e o resto do mundo não sabe disso.

E ter esse reconhecimento, ainda mais vindo de um país cheio de pessoas que acham que a gente fala espanhol, e que o Brasil todo é a Amazonas, e que vemos onças na rua todos os dias, é ótimo, para mostrar ao mundo o que a gente já sabe, nós mandamos muito bem no entretenimento, temos atores incríveis e merecemos reconhecimento por isso.

Então, deixem nos comentários o ganhador que mais concordou, fora Ainda Estou Aqui é claro, e o que mais discordou.