Apesar de tantos avanços em relação aos direitos da comunidade LGBTQIAPN+, a violência e o preconceito são crescentes e ameaçam sua existência. Ainda hoje, o Brasil é o país que mais mata pessoas transgênero em todo o mundo – segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) 122 mortes foram registradas em 2024. Nos EUA, em meio à retirada de políticas de proteção à comunidade LGBTQIAPN+ e a retirada da lei que reconhece pessoas transgênero, a violência cresce exponencialmente.
A verdade é que parece que a sociedade tem nadado de braçada para o retrocesso. A luta que se iniciou naquela noite de 28 de junho de 1969 no bar de Stonewall não acabou, mesmo depois de mais de cinquenta anos. Naquele local frequentado por gays, lésbicas, trans, drag queen e outras pessoas marginalizadas, também estava Marsha P. Johnson – uma das figuras mais importantes da luta pelos direitos LGBTQIAPN+.
Nascida Malcom Michales, em 1945, em uma família religiosa e trabalhadora, Marsha sempre se travestiu com peças femininas. Ainda criança, gostava de usar vestidos, mas decidiu deixar de lado esta parte de si por conta do bullying e violência sexual que sofreu. Aos 17 anos, após se formar no ensino médio, ela se mudou de Nova Jersey para Nova Iorque. Naquela época, homossexuais e travestis eram perseguidos e sofriam constantemente com a violência policial na cidade, assim, Marsha sofreu para conseguir trabalho e passou a se prostituir. Ela vivia entre lares de amigos enquanto lidava com a violência de alguns de seus clientes e frequentes prisões.

Foi em Nova Iorque que também conheceu Sylvia Rivera, uma jovem de 11 anos. porto-riquenha e transexual. Juntas, as duas advogavam pelos direitos gays e protestavam contra a opressão que sofram. A partir de Stonewall, vários movimentos de luta da comunidade LGBTQIAPN+ se iniciaram, organizando a primeira Parada Gay em 1970. Foi também neste ano que Johnson e Rivera fundaram a Street Transvestite Action Revolutionaries (STAR) e a STAR House, uma organização que se dedicava a abrigar jovens transgêneros que foram rejeitados pelas suas famílias.
Durante a década de 1970, Marsha se tornou uma figura ainda mais eminente, participando do grupo drag “Hot Peaches” e se tornando modelo do artista Andy Warhol. A letra “P” em seu nome representava seu dilema “Pay it no Mind” (“Não se importe”), o que refletia sua personalidade alegre e amigável, apesar de todas as dificuldades que enfrentava como uma travesti negra nos dias que viveu.
Em 6 de julho de 1992, o corpo de Marsha foi encontrado no Rio Hudson. Apesar da polícia acreditar em suicídio, seus amigos acreditavam que Johnson havia sido vítima de um crime. 1992 foi um dos anos mais violentos em relação à comunidade LGBTQIAPN+ já registrados em Nova Iorque. Apesar da desconfiança, a polícia classificou o caso como afogamento de causa indeterminada, o que causou revolta. O caso só foi reaberto em 2012, mas não foi concluído.
Victoria Cruz, uma ativista transexual centra a busca por verdade sobre a morte de Marsha P. Johnson. Além da investigação em torno do caso, ela traz biografias e histórias de peças importantes da luta iniciada em Stonewall em 1969 em um documentário que busca por justiça.
Lançado em 6 de outubro de 2017, o documentário ” A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson” foi dirigido por David France e está disponível na Netflix
Assista ao trailer oficial:
