Se tem algo que eu não abro mão de defender, ainda mais levando em consideração toda a minha vivência como torcedora de um clube que esteve diretamente envolvido na sua luta, é da Democracia. Em tempos em que o conservadorismo combinado com sintomas de facismo flerta com a política mundial, defender o nosso sitema democrático é responsabilidade de todos os cidadãos.
Ser corinthiana, para mim, é bem mais do que vestir as cores preto e branco e torcer para que o time ganhe jogos, faz parte da minha personalidade e de quem eu sou, até mesmo politicamente. A Democracia Corinthiana é uma parte muito importante da história do clube e me inspira a fazer o possível para que tempos tenebrosos como aqueles que lutaram nos anos 1980 por eleições diretas enfrentaram. O movimento que nasceu dentro do clube alvinegro, com o propósito de melhorar a política do time, acabou se tornando maior e esteve diretamente ligada ao movimentos Diretas Já e ao rock nacional – subversivo, rebelde e revolucionário – que nasci na década de 1980.
Em um documentário dirigido por Pedro Asbeg e com locução de Rita Lee, os três movimentos são ilustrados de forma a explicar como a união deles buscava fazer do Brasil um país mais livre e democrático.
Democracia em Preto e Branco reúne Casagrande, Sócrates e Wladimir, ex-atletas que atuaram diretamente no movimento dentro do clube, o presidente Luís Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e personalidades como Frejat, Marcelo Rubens Paiva, Paulo Mikos, Serginho Groisman e Marcelo Tas para conversar sobre cada um desses movimentos serviu de engrenagem para que os brasileiros lutassem pela democracia.
O filme, lançado em 2014, marca os cinquenta anos desde o golpe militar e 30 anos da campanha de Diretas Já, além de servir como homenagem a Sócrates, que faleceu em 2011.
A Democracia Corinthiana, movimento que nasceu para trazer um modelo de gestão onde tanto os jogadores, quanto funcionários do clube pudessem se juntar à diretoria para tomar as decisões mais importantes, se tornou um movimento ainda maior, quando deixou de acontecer apenas dentro do Parque São Jorge e se estendeu às lutas contra a Ditadura Militar. Os jogadores do Corinthians entravam em campo com frases de protesto como “Ganhar ou perder, mas sempre com democracia” e participavam de campanhas para eleições diretas. O movimento é um marco no futebol brasileiro e é exemplo de como o esporte pode ser uma ferramenta poderosa de mudança social e política.
Enquanto os jogadores alvinegros usando de sua visibilidade dentro e fora das quatro linhas, o rock nacional crescia e usava de suas letras e ritmo frenético para externalizar a frustação dos jovens que cresceram em meio à censura e falta de liberdade. Apesar de muitos grupos que surgiram na época terem suas letras censuradas antes dos lançamentos de discos, fazendo que eles tivessem que alterar suas gravações, eles usavam dos shows ao vivo para poder expressar verdadeiramente seus sentimentos e opiniões em relação à ditadura.
O burburinho causado pelo movimento corinthiano e pela música jovem do rock nacional vinham de encontro com a opinião de toda uma nação que estava cansada de viver em um país como aquele. O desejo por eleições democráticas aumentava a cada ano que passava, mas com ele tenha existia a frustação e a angústia de ver que aquilo parecia um sonho distante. Apesar do fracasso no Congresso em 1984, o país não parou e continuou lutando pela redemocratização. Ainda que em 1985 uma eleição indireta tenha ocorrido, o legado do movimento trouxe mudanças significativas que culminaram na promulgação de Constituição Federal de 1988.
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